Pandora se mirava em um espelho
Que refletia a cosmogonia de outros seres
Ansiosos por encontrarem o silêncio...
Até que ela virou-se para mim que a esperará
E prometeu-me mostrar o seu Segredo
Que unia e separava nossos gritos.
Qual o trovão que rompeu o eixo do universo
E rompeu o crânio de todos que viviam? Qual
A noite que transformou os fantasmas em sombras
E fez que pensassem serem homens? - Apenas
Sei que encontrei-me semivivo entre os defuntos
E que Pandora como um sonho escondia sua face
(Sua face sob seus cabelos negros como a lua)
E que lentamente levantei-me do meu corpo
E vislumbrei um mundo não escuro porém claro,
Claro como um deserto de casas, homens e ruínas
Recoberto; de casas, homens e ruínas,
Asfixiados por terríveis névoas milenares...
Então Pandora, altiva, ao recortar-se entre as ruínas
Parte dessa névoa desmembrou
E com seus dedos o véu do cosmos espargiu;
Por aquelas ruas sempiternas caminhamos,
Enquanto as casas cada vez eram mais pobres,
E tudo, árido árido árido
Repetia-se no mesmo céu eterno e fugitivo
Como se estivéramos a reviver as nossas mortes...
Dentro das casas viam-se homens e mulheres
Indefinidamente iguais como espelhos
E dentro das casas, das tabernas, das alcovas
Viam-se lagartos a escorrer de olhos ocos
Enquanto pelas ruelas solitárias esqueletos
Espalhavam-se fincados nos detritos
Como árvores que pelo vento se plantassem
E que do rio de esgoto se nutrissem;
Até que o sol foi eclipsado pelas sombras
E o céu ermo de sois e de estrelas transformad
Em um deposito de todos os matizes da tristeza.
Ao chegarmos ao antro mais miserável da cidade
Onde a solidão como um pássaro-morto era completa
Ela mostrou-me a caixa na qual os raios de sol se extinguiam
E onde os gritos se concentravam em silêncio,
E eu lhe perguntei: “Qual é a história desta caixa, Pandora? Eu quero
Ouvir a história desta caixa, Pandora!!!!!!!!!!”
O piso de vidro a qualquer momento iria sucumbir-nos
O céu a qualquer momento nos tragaria em seu ventre
Os últimos pássaros fugiam para a Tebas desolada
As sombras fugiam dos crânios e nos sepulcros se fincavam
Ela abriu os braços e começou a girar sobre si mesma
E, histérica histérica histérica
Se desnudava e ria repetindo
Algo que eu podia sentir
Mas jamais entender:
“Todos nós somos órfãos. Não porque nossos pais tenham morrido
Mas sim porque jamais existiram”
“Você quer ouvir a história da morte?
A morte nasceu em um dia em que tudo estava vivo
E todos a olharam espantados, epilépticos, perplexos
E se perceberam todos mortos, mortos, mortos,
Mortos como as árvores, as pedras, o rio, o oceano
Mortos como as montanhas, os vulcões, o céu, a tempestade
Mortos como tudo o que não chora por ser morto
ESTA É CAIXA DE PANDORA DE PANDORA DE PANDORA
Então a morte como um ovo sem casca foi se abrindo
Até habitar o âmago do âmago do homem
E os Deuses e Mitos começaram a brotar d’alma humana
Como se da caverna os morcegos da escuridão se afugentassem
E a Terra foi se transformando em um espectro inacabado
De tudo o que os homens faziam para livrar-se do seu fado
ESTA É A CAIXA DE PANDORA DE PANDORA DE PANDORA
E os homens construíram templos, igrejas, cidades
Mumificaram seus cadáveres com o adubo de seus feitos
Transformaram-se em estátuas insípidas de esterco
Empilharam livros contendo nada além do seu o vazio
Mas as cidades tornaram-se mais vivas do que eles
Mesmo sendo desertas como um sonho sem imagens
E os templos e igrejas foram se incendiando pouco a pouco
Como a luz que expira no próprio nascimento
ESTA É A CAIXA DE PANDORA DE PANDORA DE PANDORA
E se colocasses no crânio uma mágica lanterna
E visses o que está por trás de cada universo aprisionado
E se penetrasses no escuro, nessa lua
Verias uma fileira de homens ocos, desolados
Sob uma ponte entre o mar e suas rezas
A buscarem as estrelas que regozijam a mãe-terra
Mas, ao olharem bem, o céu é todo chumbo
E a alegria não é mais do que uma nuvem,
ESTA É A CAIXA DE PANDORA DE PANDORA DE PANDORA
Não há flores que escondam o epitáfio em que nascemos!
Não há sois que brilhem na noite que morremos!
Então por que temes, em teu quarto, no escuro, na surdina
Que venham bater em tua porta e dizer: “vim te buscar eu sou a morte?”
Nós somos a morte, somos nós a máscara escarlate!
Giramos em uma chama, chama adentro
E ardemos pois a chama de nós se alimenta
¡ESTA É A CAIXA DE PANDORA DE PANDORA DE PANDORA!
Somos a dor, não só a morte mas a dor
¡ESTA É A CAIXA DE PANDORA DE PANDORA DE PANDORA!!
Suas vestes haviam caído seu corpo estava nu como um sepulcro
Se olhares para o fundo desta caixa
Verás que há a espera jamais a esperança
¡¡¡ESTA É A CAIXA DE PANDORA DE PANDORA DE PANDORA!!!
Tudo o que era sofrimento agora é caos
¡¡¡ESTA É A CAIXA DE PANDORA DE PANDORA DE PANDORA!!!!
¡¡¡A CAIXA DE PANDORA DE PANDORA DE PANDORA!!!
¡¡DE PANDORA DE PANDORA DE PANDORA!!
¡DE PANDORA DE PANDORA DE PANDORA!
DE PANDORA DE PANDORA DE PANDORA