No Brasil, o primeiro caso confirmado de COVID-19 foi reportado pelo Ministério de Saúde em fevereiro 26, 2020. Hoje (Maio 21, 2020) o país reporta 310,921 contágios e 20,082 mortes por coronavírus (Worldometers, 2020). Os estados mais afetados são: São Paulo com 65,995 casos, seguido pelo Ceará com 28,112 e Rio de Janeiro com 27,805 (Statista, May 19, 2020). Devido ao rápido incremento de coronavírus, os maiores estados como São Paulo e Rio de Janeiro decretaram quarentena desde a segunda quinzena de março, 2020. Estas políticas de isolamento afetaram a economia brasileira, além do mercado de trabalho, as estratégias empresariais e das diferentes áreas organizacionais tais como Recursos Humanos.
Na economia brasileira, se estima que o PIB vai atingir 0,9% devido a redução de investimentos e consumo decorrentes ao COVID-19. O vírus afetou a economia mundial, incluindo os Estados Unidos e a China, os maiores exportadores e compradores de produtos a nível mundial e importantes trading partners do Brasil (UOL, Economia, 2020). No mercado de trabalho, a taxa de desemprego no primeiro trimestre do 2020, atingiu 11.9% com um total de 12.9 milhões de desempregados (IBGE, 2020). A incerteza na economia, tem causado que empresas sejam mais cautelosas nos seus investimentos e contratações. Segundo o SEBRAE, os setores econômicos mais afetados pelo COVID-19 são “construção civil, alimentação fora do lar, moda e varejo, e mais outros dez, os quais representam 12.3 milhões de negócios ou 21,5 milhões de empregos. ” (SEBRAE, 2020). Assim, de aprox. 46,6 milhões de pequenas empresas no Brasil, algumas delas já estão contemplando decisões extremas como a demissão em massa ou o encerramento definitivo de operações.
Para evitar o desemprego massivo, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) recomendou a ampliação da proteção social, o apoio a manutenção de empregos (ou seja, trabalho com jornada reduzida, licença remunerada e outros subsídios) e também a ampliação aos benefícios fiscais e financeiros, inclusive para micro, pequenas e médias empresas (RHpraVOCÊ, 2020). O governo também anunciou um auxílio econômico de R$600.00 para os trabalhadores informais, redução de jornadas e salários e o apoio a pequenas e médias empresas via créditos para o pagamento de salários, são medidas que buscam auxiliar empregados e empregadores em tempos de crise.
No setor empresarial outra iniciativa contra o desemprego, e o movimento "Não Demita!" Criado no Brasil para auxiliar trabalhadores em tempos de COVID-19. Este movimento busca incentivar a manutenção dos empregos por, pelo menos, dois meses. Não Demita! Começou com 40 empresas, e atualmente se somaram mais de 3,500 organizações, incluindo empresas como a Accenture, Alpargatas, Bradesco, C&A e Magazine Luiza. A iniciativa procura construir um legado de conscientização dos empresários sobre a “responsabilidade social” dos seus negócios para a sociedade. Até o momento, Não Demita! já evitou a demissão de cerca de 1.5 milhão de colaboradores (Revistapegn.globo.com, 2020).
O COVID-19 também gerou novos empregos em alguns setores. O setor da saúde, e-commerce, vagas operacionais e administrativas, incrementado a demanda de trabalhadores. Por exemplo, segundo o INFOJobs, as vagas para trabalhos home office tais como consultor de vendas, vendedor e representantes comerciais cresceram em 387% em março quando comparadas com janeiro 2020 (BBC, 2020). Nestas empresas há adoção de novas estratégias de negócios, processos e regra. Segundo a consultoria EY, as empresas que continuam no mercado devem priorizar “a segurança dos colaboradores e o engajamento contínuo. As empresas devem iniciar ou expandir acordos de trabalho flexíveis e outras políticas que permitam que as pessoas trabalhem remotamente e com segurança. Assim, políticas de reorganização, redistribuição de recursos, e políticas de bem-estar dos funcionários permitiram um ambiente de trabalho seguro. ” (EY, 2020).
O COVID-19 está incentivando que as empresas adotem novas estratégias organizacionais, as quais afetam todas as áreas desde o financeiro até recursos humanos tais como o home office. O Home Office, ou regime de trabalho remoto se converteu em uma tendência no Brasil e no mundo. No Brasil, o trabalho remoto não era uma opção para 51% das empresas até o coronavírus aparecer. Agora, 80% dos gestores aprovam essa nova estratégia de trabalho (Globo.com, 2020). Em março, 2020, uma pesquisa com 359 empresas brasileiras já mostrava que o 43% destas tinham adotado o trabalho remoto como estratégia de negócios (Valor, 2020).
Na área de Recursos Humanos (RH) especificamente, o COVID-19 tem requerido inovações em suas estratégias, processos e tecnologias. A área de RH joga um rol crítico em assegurar a saúde e o bem-estar físico e mental dos trabalhadores. Também ela é responsável por prover empregados e empregadores com informações organizacionais e trabalhistas, assim como de participar da coordenação de estratégias alinhadas a continuidade do negócio. Esta área também lida diretamente com as contratações e demissões de empregados.
Para a contratação de novos funcionários, a área de Recursos Humanos tem inovado seus processos de recrutamento e seleção, principalmente apoiado do uso de novas tecnologias em tempos de COVID-19. Os softwares de recrutamento, que permitem o trabalho remoto do empregador e o primeiro contato com novos funcionários se converteu em uma ferramenta laboral crítica. Estes softwares permitem analistas de RH, analisar e filtrar centenas de currículos automaticamente. Também, estes softwares permitem a aplicação de vários testes online para vários candidatos ao mesmo tempo, e também levar a cabo treinamentos e trabalho remoto.
As novas tecnologias usadas pelos gestores de RH também permitem levar a cabo entrevistas online por vídeo conferências entre candidato-empregador, em tempo real, permitindo aos gestores serem mais eficientes na avaliação de vários candidatos. O mais importante, é que as entrevistas online permitem que as empresas sejam responsáveis socialmente, protegendo a integridade física e mental dos candidatos, os quais não precisam se expor a situações de risco de contágio do vírus, uma vez que a entrevista é realizada de sua casa. Apesar do acesso à internet e ao computador, pode ser uma desvantagem para vários candidatos, pois é esperado que num contexto laboral de cidades maiores como São Paulo e Rio de Janeiro, uma proporção significativa de aspirantes as vagas tenham acesso a estes recursos. Assim, os candidatos podem se conectar com recrutadores seguindo um link e interagir com o recrutador como se tivesse no escritório da empresa.
Outra metodologia de recrutamento usada pelos gestores de RH em tempos de COVID-19, é quando os candidatos enviam a uma empresa entrevistas previamente gravadas. Neste processo o recrutador envia ao candidato um roteiro de perguntas, ou solicita para que ele exponha alguma conquista profissional ou fale de algum desafio que enfrentou na carreira. O aspirante a vaga, pode escolher uma das duas tarefas e gravar suas respostas. O vídeo gerado, depois é avaliado pelo recrutador em termos de comunicação interpessoal, oratória, dicção, capacidade de exposição e síntese de ideias, entre outros fatores. Além disso, os recrutadores que também sofrem a crise, podem avaliar candidatos no momento mais oportuno para eles e compartilhar via online os materiais com outros analistas e gestores. O uso de novas tecnologias e metodologias está permitindo que equipes de RH tragam soluções mais rápidas principalmente em setores produtivos com demanda alta em tempos de COVID-19.
Naqueles setores produtivos com demanda de trabalho em tempos de COVID-19, os gestores de RH esperam que a competição entre candidatos seja alta. Assim, é recomendado que pessoas procurando recolocação usem seus networks para encontrar novos empregos. A crise do coronavírus é uma boa oportunidade para reviver conexões antigas e criar outras novas. O uso de mídias sociais tais como o Facebook e o LinkedIn podem ser ferramentas de contato com ex-colegas de estudos, mentores e ex-colegas de trabalho os quais podem indicar alguém que esteja contratando ou conhecer de alguma empresa com vagas abertas. Via LinkedIn, o candidato pode contatar profissionais bem-sucedidos na área de interesse, participar de eventos online, ou capacitações que envolvem carreira e trabalho. Além disso, grupos de Telegram ou WhatsApp podem expandir os contatos profissionais. Também é recomendado consultar periodicamente websites que podem ajudar a encontrar vagas tais como: LinkedIn, Catho, InfoJobs, Empregos, SINE, Indeed e Trovit Brasil. Usar o tempo de quarentena para ganhar novos conhecimentos e skills para melhorar seus currículos e marca pessoal também é recomendado. Por exemplo, fazer cursos online com zero custo, aqueles disponíveis pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Paulista (UNIP), ou outras plataformas tais como o COURSERA, UDEMY, VEDUCA.
Os gestores de Recursos Humanos, também recomendam para aqueles candidatos selecionados para uma entrevista profissional se preparar com informação relevante da empresa, utilização de ferramentas online, e cuidar da sua apresentação pessoal. É esperado que os candidatos entrevistados conheçam a missão da empresa, as qualificações da posição a qual concorrem e estarem familiarizados com o uso dos aplicativos ZOOM, Microsoft Meetings, Google Hangout e outras aplicações de vídeo. Também, gestores de RH recomendam que o candidato se vista apropriadamente, como se estivesse indo de fato ao escritório. É importante procurar um ambiente silencioso, bem iluminado, com um fundo apropriado para a entrevista e se preparar mentalmente para uma possível oferta de emprego remoto no curto prazo.
Enquanto o mercado de trabalho no Brasil e no mundo esteja afetado pelo COVID-19, as empresas devem mostrar responsabilidade social, começando por cuidar da saúde física e mental de seus colaboradores, promovendo o distanciamento social e no possível incentivando o trabalho remoto. Os analistas de RH cumprem uma função importante em lidar processos de recrutamento e seleção em tempos de crise. Além disso, apesar do COVID-19 estar criando desemprego, também está criando novas oportunidades. Empresas estão contratando, mas a demanda é grande, assim pessoas procurando recolocação devem aprender novos skills e estar preparados para se destacar nos processos de seleção online, sendo que no curto prazo, tudo indica que o trabalho remoto e entrevistas virtuais será a regra.